PLANEJANDO A PRÓXIMA SAFRA

Lucas Castro Silva

8/10/20255 min read

Quando o assunto é planejamento, sempre me lembro da proeza realizada pelo navegador Amyr Klink, este brasileiro entrou para a história como a única pessoa até hoje a realizar, sozinho e a remo, a travessia do Atlântico Sul - uma viagem de 3700 milhas sem escalas ou interrupções. Para maximizar as chances de sucesso, Amyr não mediu esforços para planejar minuciosamente cada detalhe de sua jornada, pois qualquer erro seria fatal. Levou mais de um ano de estudo do plano de rotas, alimentação adaptada, comunicações e projeção do barco, para fazer uma viagem de apenas 100 dias. Um ponto interessante desta história é que, no final, ele acaba chegando ao seu destino um pouco antes do que havia planejado, o que gera uma frustração em Amyr, pois em sua visão, houve falha em seu planejamento.

Atualmente, muito se fala sobre a importância do planejamento durante a elaboração e condução de projetos, seja no setor agropecuário ou em qualquer outro. No nosso setor, este tema está em voga e não é de hoje. Em eventos como, palestras técnicas, dias de campo, simpósios e workshop sempre vemos técnicos, pesquisadores e professores evidenciando a importância de elaborar um planejamento adequado a cada realidade e colocá-lo em prática na hora de desenvolver um determinado projeto. Diante deste cenário, era de se esperar que o planejamento técnico e financeiro de um empreendimento agropecuário fosse um procedimento habitual entre os produtores. Entretanto, não é isto que acontece em muitos casos.

Em alguns artigos técnicos já foi relatado que a pecuária de corte é tida como uma atividade de baixa demanda gerencial, ou seja, requer pouco planejamento e gerenciamento para sua execução. Sendo que, esta precariedade na gestão está historicamente enraizada no setor devida as características relativas à evolução da pecuária de corte no Brasil, com inadequada mensuração de dados e a filosofia de acumulo de patrimônio (crescimento horizontal) trazida dos tempos de instabilidade monetária. Entretanto, diante deste novo contexto econômico vivenciado, é necessário que o produtor entenda e adote práticas produtivas adequadas ao novo modelo de negócio pecuário. A alta nos custos de produção, a baixa relação de troca, instabilidades macroeconômicas e climáticas, estão – a cada dia – exigindo mais profissionalismo por parte de todos os envolvidos na atividade.

Neste sentido, é necessário a adoção de sistemas de produção mais intensivos para que o produtor alcance ou mantenha altas produtividades e rentabilidades em seus negócios. Mas cabe lembrar que, essas estratégias de intensificação implicam em maior aporte de recursos físicos, financeiros e tecnológicos, além de requerer instrumentos de gestão mais eficientes e com metas bem definidas. Ou seja, neste caso, o planejamento torna-se crucial para o sucesso do projeto. O primeiro passo para a elaboração de um planejamento, é o diagnóstico do atual sistema de produção com avaliação dos recursos existentes e resultados alcançados na última safra ou nos últimos anos. Para este diagnóstico devemos avaliar alguns recursos disponíveis, como por exemplo: características do histórico climático; tipos de solos e a fertilidade destes; relevos; inventário de pastagens (gramínea presente em cada pasto, stand de plantas forrageiras, infestação de plantas invasoras e de pragas, histórico de correção e adubação); fontes de água disponíveis aos animais e seus dimensionamentos; infraestrutura de piquetes, cochos e sombreamentos e seus dimensionamentos; maquinário e implementos; e a capacidade de armazenamento e processamento de insumos.

Importante dizer, que o conhecimento das características climáticas da região com a qual estamos trabalhando é fundamental para este planejamento. A pecuária brasileira caracterizase por apresentar o sistema de produção exclusivamente à pasto, onde essas pastagens apresentam acentuada variação estacional na produção de forragem ocasionada por fatores, como luz, temperatura e umidade. Por esta razão, o produtor ou técnico deve se informar sobre essas características climáticas do local - hoje temos disponíveis gratuitamente na internet os dados para diferentes regiões do país -, pois esta estacionalidade de produção é o que irá determinar o cronograma de várias atividades, como, épocas de estação de monta, parição, desmama e pesagens, época para compra e venda de animais, adoção de confinamentos estratégicos, ajustes na suplementação do rebanho, calendário sanitário, planejamento alimentar e o plano de ações em pastagens.

É recomendado que este diagnóstico seja realizado no momento de transição águas-seca (final do período chuvoso com início do período seco) de cada localidade, pois assim, conseguimos avaliar os resultados alcançados na última safra - ou pelo menos uma prévia desses resultados – e elaborar todo o planejamento para a próxima safra.

Neste momento devemos definir quais as metas para os próximos 12 meses a partir do plano de evolução do rebanho. Com isso, será possível definir quais áreas serão reformadas, recuperadas ou intensificadas na próxima estação chuvosa, qual será a lotação nessas áreas e a lotação média da fazenda ao longo do ano, em qual local e o quanto de volumoso suplementar será produzido para a entressafra, elaboração do plano nutricional para cada categoria em diferentes momentos, entre outras ações. Tudo isso, com base no orçamento de longo, médio e curto prazo para projeção do fluxo de caixa.

Após esta primeira etapa, devemos elaborar o cronograma de atividades para o projeto ao longo desses 12 meses. Neste calendário deve constar as épocas de cada ação que será realizada no período, como, épocas para amostragens de solo e recomendações, calagem, gessagem, adubações, monitoramento e controle de infestações de plantas invasoras e pragas, para as áreas que serão intensificadas. No caso de áreas destinadas a reforma, também serão incluídos momentos para iniciar os preparos de solo, aquisição de sementes, plantio e o primeiro pastejo. Para a sanidade do rebanho, os meses que os animais serão vermifugados e vacinados com diferentes protocolos. Em relação a reprodução, momento da estação de monta para cada categoria de fêmea, épocas de nascimento, de desmama e pesagens. Este calendário será feito de acordo com as realidades e definições de cada projeto.

Para cada ação que foi pré-estabelecida, o responsável por executá-la deve estar treinado. Por isso, é importante avaliar também a necessidade de treinamento de equipes que irão manejar os animais, medicar, fazer o arraçoamento das diferentes categorias, aplicar os fertilizantes, preparar o solo, controlar as invasoras e pragas, etc. Isto garantirá que os procedimentos sejam realizados no momento correto e de forma correta.

O planejamento deve ser dividido em três níveis, que são: o planejamento de longo prazo (igual ou superior a um ano), de médio prazo (inferior a um ano) e o de curto prazo (abrangência de dias ou semanas), também chamados de planejamento estratégico, tático e operacional, respectivamente. Em cada um desses níveis é necessário que se estabeleça metas bem definidas relacionadas a cada evento com o monitoramento de dados constante para garantir a revisão do plano quando necessário. Em outras palavras, apenas planejar não basta. Devemos monitorar as informações que são geradas durante a execução do projeto e criar indicadores para que possamos medir nossa eficiência técnica e econômica em cada setor. Com isso, é possível identificar as falhas e tomar as devidas atitudes para corrigi-las.

Diferentes de outros setores da economia, a agropecuária tem a característica de ser uma “indústria a céu aberto”, ou seja, está exposta ao comportamento da natureza, que não espera, não pede licença e toda ação tem um custo. Diante deste fato, o produtor deve se conscientizar da importância do planejamento para o seu negócio, pois não adianta apenasfazer o certo. Tem que fazer o certo, no momento certo, do jeito certo e na quantidade certa.

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